sábado, 24 de dezembro de 2011

Por uma questão de questão...

Esta foto, que parece ter sido tirada dos arquivos policiais, é de uma das matérias-primas mais caras do mundo. Muito cara principalmente por causa da distância de sua origem, que encarece bem o produto, com as altíssimas taxas de frete e alfandegárias (minha amiga Marian se lembra disso).
Mas é um ingrediente realmente precioso. 
Trata-se da madeira das árvores de Aloé, um aroma bíblico - o agar (agarwood = gaharu). Com óleo de aloé Jesus foi ungido ao ser sepultado. Dizia Mohamed que o aroma do anjo Gabriel era de al aoudh. Daí podemos concluir que o aroma é pelo menos divino, algo realmente sublime.
Quando aspiramos pela primeira vez, é estranho, parece que já conhecemos de outra data aquele aroma indescritível. Amendoim, verniz de madeira, óleo de peroba, tabaco, raízes, musgo, algo podre meio fecal, um certo ar de decomposição vegetal, um floral forte, um almíscar, um cheiro de transpiração, em meio a lianas, mata molhada, começo de chuva, aroma de vento que não se sabe de onde vem.
Parece conter tudo de bom e ruim, uma síntese de tudo que já cheiramos e gostamos ou não.
Quando diluímos esta força toda permanece em forma de aura, em forma de brisa amorosa e úmida, um elfo, um espírito da Terra, o suor da Natureza.
Minha encomenda está chegando. Mais uma vez me dei de presente de Natal um pouco de oud. Junto comigo... mais duas pessoas.
O que transforma a madeira de agar em oud? Fungos decompositores que atacam a árvore, transformando o seu perfume natural. 
Malcomparando o aroma da árvore sã com o da infestada pelo fungo, seria como a diferença que existe entre um queijo fresco e um gorgonzola ou cammembert.
Agora, convenhamos: se cada árvore nasce em seu pedaço de solo, em cada país do Oriente (Índia, China, Cambodja, Vietnã, Indonésia, Malásia, Tailândia), cada espécie do gênero Aquillaria, cada idade, cada fungo, se a árvore foi inoculada ou naturalmente infestada, se é velha com mais de 100 anos, ou mais jovenzinha, se for destilada lenta ou rapidamente, se a madeira flutua na água ou não, você tem aí muitas características que fazem deste um aroma exclusivo. Pois não há um que seja parecido o suficiente com outro, para se dizer - é do mesmo. Não, cada oud é diferente do outro em uma ou mais características, um é mais amargo, outro doce, caramelado, um mais aéreo e suave, outro terroso e pesado, um floral, outro animal. Todos distintos.
Oud, para mim é a síntese dos elementos:
É madeira, é fogo, é terra, é água, é ar.
Sublime!
Agora... o preço!!!!!






quarta-feira, 14 de dezembro de 2011



No Orkut, há uma comunidade com o nome Ladrão de Aromas, para discussões abertas sobre artesanato perfumado.
Comunidade filha de um grupo do mesmo nome, do Google. 
Ladrão de Aromas é aquele que rouba dos vegetais o seu aroma para compor perfumes.

Ladrão de Aromas vai fazer 6 anos!!!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Anuncio o falecimento da grande perfumista independente Mona di Orio.

O mundo perde uma artista.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Oxé dudu






Traduzindo, Sabão da Costa.
Há muito sou encantada com os sabões antigos, tradicionais, como o Aleppo, o africano, o de leite de cabra, o sabão da costa, que era importado pelos portugueses desde 1620.
O Sabão da Costa ou Osé dudu, como era chamado pelos africanos, era o preferido dos escravos e libertos. Era oriundo de uma área entre Gana e Camarões, Nigéria, Benim, Togo. Era assim chamado porque os portugueses chamavam de A Costa, a costa atlântica do continente africano.
De acordo com a literatura que encontrei, o Sabão da Costa é um sabão sólido, de cor parda escura tendendo a preta, feito com ervas medicinais, como o nó de pinho, benjoim, óleo de coco, dendê e ervas (¿?).

Promove profunda limpeza corporal, combate a caspa, cravos, espinhas, manchas escuras, coceiras e fungos do couro cabeludo, controla o mau cheiro produzido pelo suor, além de ser usado para banhos de descarrego pelas religiões africanas.
Li uma receita e é feito basicamente de decoada de cinzas e sebo de vaca, perfumado com as ervas e acrescido do dendê e do coco.

Depois de muito tempo sendo importado e vendido aqui no Brasil, no início do século XX, o Sabão da Costa foi registrado e patenteado. Quem segue contando esta história é meu amigo Eduardo, que tem a patente e registro do Sabão da Costa Perfumado, cujo nome foi surripiado pela perfumaria Kanitz, doRio. Vejam que história mais complicada!
http://www.sabaodacosta.com/ 

Ao entrar neste link, clique em 
Um pouco de nossa história e você lerá um texto incrível.
Publiquei aqui, porém não aparecem as fotos. Visite o site, que é melhor!




QUEM SOMOS




Foto de Augusto Malta em 29 de novembro de 1929
A FLORA BRASIL já estava lá
há 15 anos.
Desde sua fundação, em 1914, o SABÃO DA COSTA® era vendido na FLORA BRASIL no Centro do Rio de Janeiro, loja que deu início a, hoje, FLORASIL fabricante e detentora da MARCA REGISTRADA SABÃO DA COSTA®.   
Foi naquele ano que Augusto Chaves, natural de Campinas, SP, aos 27 anos, abriu sua loja dedicada ao comércio de plantas medicinais, de nome Flora Brasil.Filho de remediados imigrantes da Ilha da Madeira, Portugal, cedo percebeu que tinha que sobreviver por si próprio.Durante os 56 anos seguintes dedicou-se ao estudo e comércio de plantas medicinais. Nacionais ou não,vindo a tornar-se o maior exportador e importador de plantas medicinais no país. Durante décadas não parou de cruzar o Brasil de Norte a Sul embrenhando-se na Amazônia, Bahia, SP, etc em busca - in loco - de produtos típicos da Flora Medicinal Brasileira.

Especial autodidata, aprendeu no dia-a-dia o que não se aprende na escola. Era um visionário - no bom sentido - que se dedicava, com afinco, ao estudo da Botânica aplicada a tratamentos que fizessem bem a seus "fregueses"; de caderno. Em pouco tempo, Augusto aprendeu francês - idioma comercial da época - com a mulher Elvira, assim como montou a maior biblioteca sobre Botânica no país para seu próprio uso. Logo passou a se corresponder neste idioma com professores e comerciantes das partes mais díspares do mundo como Índia e Suécia. Dentre os cinco filhos escolheu Rubem, para seguir seu caminho profissional. Ele não recusou e formou-se em Farmácia e Bioquímica. Em 1957, Augusto fundou , aos 68 anos, com seus quatro filhos vivos, na época, FLORASIL, atual detentora da marca SABÃO DA COSTA® .
O Sabão da Costa® era vendido na loja de Augusto, desde sua fundação, pouco depois da virada do século vinte. Na Flora Brasil, na década de dez, tinha Augusto - assim como seus concorrentes no Rio de Janeiro - um fornecedor habitual do Sabão da Costa®.
De tempos em tempos um português bonachão de nome - ou apelido - "CARDEAL" chegava à cidade, procedente do outro lado do Atlântico e abastecia as lojas do ramo com o produto - SABÃO DA COSTA® - assim como com "pano DA COSTA", "palha DA COSTA" , "pimenta DA COSTA", etc.
Ora, tão logo o "CARDEAL" chegava, estabelecia-se uma bem montada rede de informações e sendo Augusto informado, chamava - Rubem, seu filho - que era encarregado de pegar o bonde "Praia Formosa" - a cem réis - e ir à Rua do Livramento à loja do comerciante português buscar sabão... DA COSTA® . Quantidade limitada a parte do valor que Augusto tivesse em caixa naquele dia. O produto, segundo Rubem, vinha embrulhado em "palha de bananeira".


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Veio a Segunda Guerra, no entanto, em 1939 e logo ficaria arriscado atravessar o Atlântico apenas com fins comerciais. Sumiu o "Cardeal".
Após a guerra outros tentaram segui-lo: - era bom o mercado - embarcadiços do Lloyd Brasileiro baseados na África faziam esse comércio regularmente, sendo que há registro de que passavam esse "ofício" a seus descendentes... embora não conseguissem manter a freqüência das viagens do "Cardeal".

Certamente os fregueses de Augusto ressentiam-se da falta do produto. Surgiu então um comerciante espanhol - Don Fernando Lopéz - que passou a comercializar o Sabão da Costa® já de forma menos artesanal e embrulhado em papel verde. Mesmo Augusto, tentou industrializar o produto desenvolvendo ele próprio uma fórmula com seus conhecimentos de Botânica. Porém, foi Rubem, que com sua formação profissional em Farmácia e especialização na Flora Medicinal Brasileira por várias décadas de dedicação integral ao assunto, que confirmou as propriedades do Sabão da Costa® referendando os efeitos medicinais - à época - no sabão em sí, com embasamento técnico.

Embora o Sabão da Costa® - presente no Brasil desde pouco depois de 1620 como se viu - seja oriundo de uma mítica e secreta fórmula, é um produto cujas origens se baseiam no conhecimento hermético de antigos africanos mas que se produz hoje, com avançada tecnologia.

Enfim, sua atual composição mantém vínculos - ainda que distantes - com a fórmula original, já conhecida no século dezenove. Anos depois da guerra e de Don Lopéz, o laboratório IFER registrou a marca no INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial - e passou a fabricar o Sabão da Costa® em suas instalações na zona norte da cidade, no bairro do Grajaú. Um dia, o proprietário desse laboratório, senhor Gabriel Menezes apregoou pela Praça que pretendia vender a marca pra voltar para Portugal.

Corria já o ano da graça do Senhor de 1966 e ninguém melhor que Rubem para saber que comprá-la seria um bom negócio, levando -se em conta todo o Marketing que se poderia fazer dali em diante com relação a esta marca, devido suas históricas origens - portanto incrustadas no inconsciente coletivo - e às reconhecidas qualidades do produto.

Todos com mais de cinquenta anos - ao menos - já ouviram falar no produto.
Com muita dificuldade - mas a perder de vista - Rubem comprou do laboratório IFER a marca SABÃO DA COSTA® , válida em todo o território nacional.
Muitas dificuldades para pagar, pela marca, já que perderia sua loja num incêndio na madrugada do domingo de Páscoa de 1967.
No entanto tudo foi pago ao vendedor e ao seu espólio.

O  CARTÃO COMERCIAL DA LOJA


Esta história cheia de altos e baixos ainda tem continuação. 
Neste momento, fim de ano, estou fazendo uma cópia do Sabão da Costa, com apoio do Eduardo. Tentei fazer o mais autêntico possível, com o maior refinamento, para que fosse o mais parecido com o sabonete de perfumaria, não com o rústico sabão de cinza. Bem perfumado e sem gordura animal, feito à mão, contendo cinzas, nó de pinho, carvão ativado, benjoim da Sumatra, dendê, coco, e as ervas ficaram por minha conta.  

sábado, 3 de dezembro de 2011

Ainda sobre sabonetes

Bem, agora, vamos falar de preço.
Algumas pessoas me criticam, dizendo que se eu cobrasse menos, venderia mais. Sem dúvida, mas é uma questão de diversas faces:
1- A matéria prima usada.
Na maioria das vezes, a base que se compra na lojinha do artesão é feita com estearina (de sebo) animal. É mais barata. Este é um odor que eu não quero em meus produtos. Meu nariz acusa de imediato.
Lauril (desengraxante e detergente lauril éter sulfato de sódio ou lauril sulfato de sódio, cocamida) para aumentar a espumação. Arrepio até com a palavra, sou uma pessoa que desenvolve alergias com grande facilidade e lauril é uma delas.
Para aumentar a espumação, uso açúcar (pouco, senão as formigas vem comer seu sabonete) ou mel.
Aliás, espuma não lava, só castiga a pele. É ilusão pensar que espuma é o que limpa. Você pode fazer uma bela limpeza só com óleos ou cremes, por exemplo. Espuma zero.
Faço os meus sabonetes com óleo de palma e palmiste refinados apenas para tirar o aroma forte, uso óleos de girassol, buriti, castanha do Pará, copaíba, noz pecan, macadâmia, avelãs, andiroba, azeite de oliva virgem, de dendê, de semente de uva, óleo de amêndoas doces, germe de trigo, linhaça, jojoba, babaçu, argan marroquino, manteiga de karité virgem africana, manteiga de abacate, germe de trigo, de cacau, cupuaçu, murumuru, cera de candelila, de abelha, estearina vegetal, de boa procedência.
Raramente uso fixador de aromas artificial.
Como antioxidante, uso vitamina E, C, B5. Como antimicrobiano uso alfa-bisabolol de candeia, óleo de copaíba, própolis. Como conservante, o optiphen ou álcool, indicados para produtos naturais.
Como tensotivo, somente os hidróxidos de sódio e potássa de cinza. Biologicamente corretos.
Material de boa qualidade e importado, custa muito dinheiro.


2 - Quantidade.
É claro que uma indústria precisa fazer grandes quantidades de produtos. Para isso tem que exagerar na segurança, pois uma perda de material pode ser catastrófica. Esteja preparado para entrar em contato com conservantes e antibióticos.
É claro que um sabonete industrial deve ter aroma característico e forte. Aroma é a melhor isca para ganhar o cliente.
Aroma característico significa: sempre o mesmo, nunca mudar, ter sempre a mesma intensidade. Todos os ingredientes pesados e medidos para serem os mesmos.
O preço dos aromáticos varia muito. Fica óbvio que o aroma sintético é bem mais barato que o natural. Raro ou nenhum sabonete industrial tem aromatização natural. Não seria comerciável, haja natureza, para suprir toda essa perfumação!!!
Eu uso óleos essenciais 100% naturais, extraídos diretamente das plantas; extratos de fitoterapia (macerações, tinturas, infusões, pós botânicos, glicolatos, chás, etc); concretos, absolutos, ceras florais resultante da extração industrial das flores e plantas; resinas, seivas, bálsamos, oleoresinas; enfim, material de perfumaria de antiquário, que é como eu sei trabalhar. São produtos de nicho, diferenciados.
Em alguns casos, uso as essências de "Mr. Krishna", um mestre indiano da composição de essências, que usa material isolado, poucos sintéticos e óleos essenciais para compor aromas finíssimos. Importo diretamente dele. São exclusivas, aqui no Brasil. Todas em soliflor*.
Minha produção é de no máximo 4 quilos de uma vez, tudo feito à mão desde o "pega-se uma gamela".
Outro quesito importante. Meus produtos são vivos. O tempo na prateleira é limitado. Isso sempre gera alguma perda, se o lote não for consumido dentro da validade. Sabonete hidratante tem uma validade de no máximo dois anos, dependendo de diversos fatores, embora quanto maior o tempo de cura, melhor o sabonete. O maior problema é que o aroma pode ir embora.
A produção não pode ser muito grande para ser consumida rapidamente.

3 - Padrão
Produto artesanal não tem padrão. Não repito forma, cor, perfume. Cada partida é um sabonete um pouco diferente e a produção é limitada.
Você pode escolher o aroma que quiser para uma determinada massa, pode escolher a massa que bem entender, os ingredientes que quer ou precisa em seu sabonete.
Pode mandar fazer o que lhe interessa, encomendar a forma que quiser, enfim, sob medida para você.
Se quiser um produto exclusivo seu, pode pedir. Farei o possível para lhe agradar.
Este requinte não é possível com produtos industrializados.
Os sabonetes podem ser decorados também, de várias maneiras.

4 - Qualidade
É claro que um produto assim não pode ter o mesmo preço que o feito na fábrica, porque também dá muito trabalho, desde o início. Leva muito tempo para ser feito.
Tem a formulação, a manufatura (que faz muita sujeira, portanto tem horas e horas de lavagem e limpeza), tem a embalagem, a contabilidade, a remessa, viagens e fretes, taxas alfandegárias, bancárias, de loja virtual, página, hospedagem, a propaganda e a venda, geralmente feita sempre pela mesma pessoa (eu). Complicado!!! Nem sempre somos bons em tudo.

5 - Ambiente
Também o impacto ambiental dos meus produtos, quer na fabricação quer no uso é considerado. Sabonete não é para ser poluente. Portanto o meu não contém detergentes nem aditivos poluentes de espécie alguma.
Também respeitam sua pele, suas roupas e os perfumes que você irá usar.
Não agridem o ambiente, não agridem você, deixando sua pele fresca e saudável, sem a necessidade de muito outros cosméticos para mantê-la assim. Esta é uma maneira de economizar bastante no cuidado com sua pele. Usando bons sabonetes você gasta menos em cosméticos.
Esses são os fatores principais por que sabonetes de fábricas não podem ser comparados com os realmente artesanais e mesmo entre artesãos as diferenças são muito grandes.
É o consumidor de nicho que deve observar estas diferenças.
Quem sabe um dia...




* Aroma de uma só planta.