segunda-feira, 11 de maio de 2015

Propaganda enganosa? (3)

E por falar em sintéticos...
Na perfumaria industrial, compor um perfume não deve ser nada fácil. Imagine.
O perfumista recebe um brief. Nesse brief vem a ideia do perfume, a "molécula*" que ele vai ter que usar, quanto ele irá gastar, tempo determinado para apresentar um perfume, junto com mais 7 químicos. Dessas 8 amostras, é retirada uma, deixa-se uma na reserva e as outras 6 passam para o arquivo particular do perfumista que a compôs. Em cada 20 tentativas, é certo que o perfumista consiga em torno de 3 sucessos.
Com seu perfume eleito, irão perfumar um ambiente, uma linha de cosméticos, um sabonete, um produto de banho, um shampoo, um desinfetante, um sabão em pó.  Perfumista designer de perfumaria famosa, com vidros requintados e comercial na TV é a ave mais rara. Deve ter uns 250 no mundo e não tem lá muita liberdade para criar...
Quanto ao termo natural, então, a confusão é generalizada.
 O que é natural? Um aroma que veio da natureza ou parece ter vindo da natureza ou que imita a natureza.
Pois há os aromas dos óleos essenciais, que são produzidos a partir da própria planta; os idênticos ao natural, que são aromas montados a partir de compostos naturais (sintetizados no lab, mas que a natureza também produz ou isolados de outra fonte), imitando a composição do óleo essencial natural, e o sintético, que é um aroma que a natureza nunca produziu.
A indústria sempre irá preferir trabalhar com o sintético ou com o idêntico e não é só preço o diferencial. Há muito óleo essencial barato (laranja, limão, alecrim, capim-limão, lavanda, patchouli) e essência muito cara, como as ironas, os sandalores, geosmin, jasmone etc.
É que o óleo essencial da planta apresenta muita variação de partida para partida. Às vezes a procedência não é a mesma: a rosa búlgara é diferente da marroquina; o lavandim grosso da França é muito inferior ao da Patagônia; a tuberosa de Grasse é mais refinada que a indiana, a íris de Florença é a melhor do mundo.
Mesmo dentro da mesma procedência, há variação, pois um ano chove demais, o outro é mais seco, a variação no teor de água e luz, já irão fazer o óleo presente no vegetal ser de qualidade diferente, prevalecendo uma faceta ou outra.
Também há os problemas políticos, que influem, e muito: a guerra da Somália, faz com que o fornecimento de mirra vinda de lá fique precário. Rosa de Damasco????? O incentivo para o plantio de cana, no Brasil, derrubou e muito a produção de laranjas e cítricos, em geral.
Tudo isso sem falar no fator transporte, manipulação, processo de destilação, destilador usado, pressão de vapor, técnicas, etc.
O produto industrial não tem variação, portanto fica mais fácil se obter um perfume padronizado, com as moléculas* certinhas, com suas características mais uniformes, para vender em quantidades comerciais.
Além disso há o fator ecológico/econômico: Se a União Europeia quisesse produzir morango para o fabrico de flavorizante sabor/aroma morango. Não haveria território para que se plantasse mais nada. O flavorizante sabor/aroma morango é o de maior demanda no mundo inteiro e é usado desde o recheio do wafer até o shampoo, do iogurte ao chocolate recheado. Bate até a baunilha!!! O sintético é providencial, pois se formos aromatizar e flavorizar o mundo, com aromas óleos essenciais naturais, não há natureza que chegue.
Mas e aí? Deu para entender o que é natural?
Agora vou parar, senão não faço mais nada.

* Molécula, no caso, se refere à substância criada por outro perfumista, na indústria de essências, que agradou o perfumista de marketing (traduz o que o público demanda para o perfumista que irá confeccionar o perfume e vice versa). Molécula também é outro conceito esquisito, em perfumaria.

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