terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eclipse total da Lua

Foi lindo! Acordamos de madrugada, o espetáculo já ia longe, pegamos o final, mas o céu ainda estava tão escuro quanto fica pouco antes do amanhecer. Quando a Lua entrou totalmente na zona de penumbra, o dia já clareava e víamos os primeiros pássaros saírem dos ninhos. Nossas silhuetas delineávam-se contra o céu. Uma nuvem do tipo cirrus estava pairando neste momento e encobriu totalmente a Lua, como um véu de estátua grega, "Ártemis eclipsada". Querendo sair do outro lado da nuvem, aos poucos a Lua foi sumindo, a Aurora foi raiando e, do lado Leste do céu, Vênus iluminava tudo. As primeiras nuvens do dia pintadas de bege rosado pelas mãos da Aurora. Mais tarde, o Solstício dava início a mais um Verão, o Sol iluminando tudo. Bom Verão a todos daqui e Bom Inverno aos que vivem do outro lado do planeta. Belezas que eu vejo e tento traduzir em palavras, como faço com os aromas. Nem sempre consigo. Consigo às vezes???

domingo, 19 de dezembro de 2010

Cinderella

Este, no tacho, é o sabonete Cinderella. Feito a partir de barrilha de cinzas do fogão de lenha, cera propolizada, cera de abelha, manteiga de karité, óleo de palma e coco babaçu, mais outros óleos interessantes. Perfumado com muitos óleos essenciais, caprichando no benjoim. Trabalhoso que só vendo!!! Demora muitos dias ou semanas para ser feito. Depende de tudo, do tempo, da decoada, da madeira que foi queimada, se a cinza é nova ou mais antiga, se queimou depressa ou ficou queimando muito tempo, enfim... Cada particularidade faz com que ele seja diferente a cada partida feita. Tenho a liberdade expressa de acrescentar um pouco de soda 50% para endurecer, se ele por sí só não conseguiu ficar na consistência, mas é raro. Primeiro a cinza: não pode ter nada que não seja lenha queimando alí. Papel, plástico, madeira tratada, pintada ou com agrotóxico, não podem ser usados para a confecção de sabonetes. Depois a decoada: se vou molhar a cinza, se vou deixar ela escura, se coarei a barrilha duas vezes ou mais, para concentrar, enfim, cada jeito é um jeito. Depois a barrilha vai ao fogo. Marrom para o Cinderella, cinzenta para o Casa Grande. Depois que começa a ferver, acrescento os óleos - aos poucos, para não explodir a preparação, que é um pequeno vulcão doméstico... Depois é mexer. Mexer, mexer, mexer, porque se parar de mexer, vai explodir. Quando adquire consistência de melado, como na foto, você já pode desligar o fogo e deixar para o dia seguinte a continuação. Todo este processo leva muitos dias. Depois de evaporar por alguns dias, retorna ao fogo para adquirir consistência pastosa. É onde vai ser tratado com uma técnica especial de atenuar aquele cheiro ruim da cinza. Segredo de ofício. Atingindo o ponto de sabão bem pastoso e pesado de mexer, desligo o fogo, deixo esfriar bem e perfumo. A Cinderela verdadeira, tinha uma fada madrinha. Meu Cinderella, tem uma Xabru que fica de olho nele. E dá um trabalho enorme, principalmente quando resolve dar um baile e me fazer dançar...

sábado, 18 de dezembro de 2010

DHAFER YOUSSEF - MIEL ET CENDRES

Estava em dúvida se fazia ou não um scrub de cinzas...
As pessoas não estão acostumadas a usar scrubs no Brasil, portanto nem esquentava com isso, mas me deu na telha que faria um, nem que fosse só para nosso uso, aqui em casa.
Aproveitando as cinzas do sabonete Cinderella, já esgotadas da barrilha, coloquei cera propolizada, cera de abelha comum, manteiga de karité, manteiga de cacau, óleo de palma, acrescentando muito mel, para limpar, nutrir, reduzir os poros, desintoxicar a pele.
Voce usa um scrub, molhando bem o corpo, espalhando bem a plastrequinha no corpo todo (ele é bem melequento), deixa ficar assim durante uns 5 minutos e depois enxágua abundantemente. Vale uma máscara para a pele do corpo inteiro.
Fazer um scrub pelo menos uma vez por semana é uma prática que vai fazer sua pele sadia e sedosa e você vai se sentir tão gostosa, depois!!!
Muito bem... Só que eu não sabia que nome colocar nesse scrub tão legal que eu inventei.
De repente, ouvi esta música e PLIM!
Miel et Cendres - Mel e Cinzas. Que legal!

The MAGIC Of Bulgarian Voices & Music - polegnala e todoora (Todoora's ...

Uma vez, era meu aniversário. Caiu em um domingo. Fui convidada a ir passear no Parque do Ibirapuera (eu nem lembrava que fazia anos, pois raramente me lembro desse tipo de coisa) para assistir um concerto. Chegamos cedo e fomos passear. Meu coturno novo apertava o pé direito de uma forma inenarrável e sentamos no gramado para esperar. Nesta hora já sabia que eram as Vozes Búlgaras, que eu tanto amava, que eu ia assistir. E aí, começou a chover. Pedi a minha querida Santa Bárbara que desse um tempo... mas que nada. Chovia mais e mais. Mas eu QUERIA assistir o coral. Junto conosco, uma boa meia dúzia de gatos literalmente ensopados. Com pena de nossa triste figura, a empresária nos chamou para sentar no palco. Total de umas 16 pessoas. E como estávamos lá e o coral também, e como tinham marcado uma apresentação e não queriam decepcionar, apresentaram-se para nós. Exclusivamente. Alí pertinho, ouvindo a respiração cadenciada daquelas mulheres lindas. Presente do marido, presente de Santa Bárbara, presente do Coral Vozes Búlgaras. Nunca fiquei arrepiada por tanto tempo...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Cambuquira

Cambuquira is the town I live and it is right in the middle of the triangle formed between Belo Horizonte (capital of the state of Minas Gerais), Rio de Janeiro (capital of the state of Rio de Janeiro) and São Paulo (capital of the state of São Paulo).
It is very small, incrusted amidst many hills (you can see the tallest one, Peripau, at the back of the picture). There aren't many touristic attractions, but all the ones there are, are good value for a visit.
First of all it is a Portal for the Water Circuit of Southern Minas Gerais, where you can drink the best mineral waters of Brazil. There are many Spa towns near here. Lambari, Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas are the most famous, but the water of Cambuquira is reputed to be the best of them all and I won't deny, although I love all the others too.
In Cambuquira, the water come sparkling and bubbly from the fountain. And you can't stop drinking the waters because they are so light and fizzy and fresh and full of energy from the earth.
They are: Lythium water , Sulphurous, Magnesium, Iron and Carbogaseous alcaline, all of them sparkling. These are the fountains in the park, but there are 3 or 4 more in the outskirts.
The mountains surrounding the town lead to many beautiful places, where you can go from here.
To visit Cambuquira is not the most extraordinary trip, but the sky and the waters are best quality, the air is very clean, wherever you go you feel at home and the sunsets are spectacular.
Come and try.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mercador de Especiarias

Quero as iranianas limas
do Iraque um figo seco
de Israel as olivas de um jardim que tem por lá
do Egito quero um rio de águas sagradas
(sagradas são as águas dos rios)
assim como da Jordânia um rio me bastará
Do Líbano quero a árvore
e a púrpura da Síria
dos países da Arábia
pistaches damascos amêndoas
trigo da Líbia
um rubi do Paquistão
turcos olhares troianos
pérolas do Japão
Especiarias incensos e panos
a calma unidade dos santos
indianos
tibetanos
Do Vietnã quero um amigo
da Coréia um bibelô
Porcelana sabedoria e um Buda de marfim
de Nanquim ou de Pequim
Ópio e seda da Tailândia
legítimo arroz malaio
na cabeça um chapéu das montanhas filipinas
um balinês a bailar Tudo isso quero ter
numa orgia de beleza
pra que eu saia da incerteza
pra que as idéias se aclarem dentro de minha mente
Que as rotas deste barco
linhas retas
largos traços que
sem controle embaraço
se definam de repente
que eu compreenda este mundo
que eu compreenda esta gente
Quero as lembranças todas
de um alargado turismo
na alma do homem que sou
e sem pensar
num instante
meu caminho
nesta vida
se oriente.
Ane*
1991 - Sítio Curupira

Curupira

In Brazilian indigenous culture there is a gnome called Curupira. He is small like a very ugly child, has red hair painted thick with urucum (anato seeds). Sometimes he walks on bare foot, sometimes he rides a caititu - a wild boar.

He carries an empty tortoise shell with which he beats a big tree called sumaúma to immitate a thunder even if the day is bright.

He wanders in the forest looking for tobacco leaves to chew or smoke and - this is the intersting part - chasing hunters and wood gatherers. Yes, Curupira is like a jungle guardian, a wild child like imp.

The funny thing about this character is that he has his feet turned backwards, and whistles like an uirapuru, a small bird that sings so marvelously that all the other birds and creatures keep silent to listen to its song. It sings only once a year.

This legendary bird brings good luck to the ones who own it. So if you find one you are lucky forever. Any hunter will certainly go for it.

Soon he will find footprints and thinks someone else is searching for the bird, so he has to get it first. Sooner or later he will encounter the gnome who will ask him for a smoke.

If he doesn't fulfill his wish, Curupira will kill and eat the hunter. Nobody can go into the jungle to fell a tree unless they make Curupira a gift of tobacco and meat.

Of course the Curupira is only a legend for innocent people like children and indians. If he was real he would protect the jungles of Brazil against greed, depletion and degradation.

All this is by way of explaining why I called my homestead Sítio Curupira, where I am at this moment.

It is sunny and silent. Only the birds are singing.

I am going to go out.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Toninho Horta - Era só começo nosso fim

Para estimular o senso estético em quem gosta deste blog de 3 leitores. Bela música. Todo mundo merece.

sábado, 27 de novembro de 2010

LISA GERRARD - Aria (featured in Layer Cake )

Depois da Lua Azul

Lua azul (Blue Moon) acontece 7 vezes a cada 19 anos. Em um ano em que há treze luas, em vez de doze, a lua azul é a última da estação do ano que tiver quatro, no caso, esta última lua de novembro.
Depois desta lua, outras modificações aconteceram em minha vida.
Volta à escola no finzinho do ano, foi uma delas. Outra vértebra atrapalhada na coluna. Um estilo novo de fazer sabonete. Um perfume diferente de tudo jamais tentado.
Pontos positivos, pontos negativos, pontos a ressaltar.
Lendo muito sobre construção e composição de perfumes, sobre a busca da beleza e da harmonia, que pode ser dissonante, claro, mas harmônica.
Uma das facetas musicais mais difíceis de entender, a Harmonia dos acordes, como na MPB, aquelas aranhas de dedos que os violonistas colocam nos trastes de seu instrumento. Afinado.
Isto quer dizer, cada nota em seu lugar, com a força de cada nota ressaltada ou abafada de acordo com a vontade do autor da melodia.
Aprendo lento lendo.
Attares, mukhalats, qualias, milhares de notas olfativas. Para chegar em um total aromático artisticamente belo, é necessário se abrir por dentro, aceitar, pensar, montar, compor e depois sair à busca do aroma sonhado. Esperado, já.
Entregar ao ar um perfume, fruto de minhas idéias, imaginação, pensamento, mais do que do meu nariz. Meu nariz me auxilia a conhecer o material com que vou trabalhar e a avaliar.
Quero misturar as cores sem chegar naquele marrom acinzentado onde sempre chega a falta de técnica. Misturando aromas, sem saber o que vai acontecer, chega-se em um cheiro bom? Fácil. Todo mundo pode compor o seu "Mil Flores"...
Mas a arte de elaborar acordes simples (e não simplórios) porém redondos, marcados pela harmonia entre as notas, que evocam um sentimento dentro da alma do perfume, em quem o fez e em quem o aspira, quem o usa, faz transparecer esta arte.
Usar as dissonâncias para dar cor e tonalidade, para ativar a imaginação.
Compor perfume é artesanato, arte, é (pa)ciência sublime.
Pois quem busca a beleza, procura ser belo por dentro e dar uma bela forma a seu caráter também.
A perfumaria é calma e solitária, ótima para aquelas pessoas que ficam consigo mesmas, silenciosamente, sem problemas. É para quem tem tempo para refletir e amadurecer suas idéias. É para quem aprecia o estudo e a leitura, tem gosto pela experimentação com método, critério e consequência.
É para os que enxergam o mundo com suas cores, no claro e no escuro. Para aqueles que cheiram os sabores e escutam os aromas.
Quem sabe um dia... Vou tentar até morrer.

domingo, 7 de novembro de 2010

O Céu estrelado

A personificação do Céu Estrelado é Urano e o Tempo, é personificado por seu filho Saturno, que também é um dos planetas que está sendo observado no Observatório Centauro, aqui em Cambuquira. O Observatório foi criado em 1962 pelo astrônomo amador Sigmund Szabó, que, entre outras listas, rifas, livros de ouro e outras tantas artimanhas, rifou seu fusquinha para arrecadar dinheiro para construir o observatório. Construiu o primeiro telescópio, com canos de pvc, entrou em contato com os astrônomos do Observatório Nacional, no Rio, fez grupos de estudo e observação do céu e muita gente participou, gostou, não esqueceu e até hoje está vivo e bem vivo o Observatório Centauro, na Rua Charles Bertaud, conhecido como a "Casa da Bola", devido a sua cúpula prateada, que está sendo reparada. No Observatório, ou simplesmente OBS, como eu chamo muitas modificações estão sendo feitas. O diretor, Renan Resende Campos, conseguiu um telescópio legal, agora, consegui outro, há algum tempo atrás, de um hotel que se estabeleceu na cidade, enfim, cada um cava de um lado e hoje estamos bem equipados para receber os turistas interessados em ver o céu girando sobre a cabeça. Para mim, o cartão de visita da cidade, seria este. Venha ver o céu de Cambuquira no Observatório Centauro e perceba que faz parte do Universo. Sou uma apaixonada por aquele espaço onde gravitei por 3 anos sem interrupção, organizando seminários de estudos planetários e dando aulas de 'mitologia grega nas constelações' e me ajudou a construir todo um imaginário dentro de mim. Este blog eu dedico ao Raoni Vilhena e Renan, meus dois queridos lindos que mantêm o sonho do velho húngaro, vivo. O sonho daqueles que às vezes levantam a cabeça e olham o céu e percebendo seu movimento, sentem a terra a rodar.

Dicas e toques

Se você quer aprender, é mais ou menos fácil. Livros irão ensinar. Se você quiser fazer, mesmo de longe, não é difícil. Você precisa ter somente o material e quem oriente seus primeiros passos. Também ver os produtos de quem já trabalha com o que você quer fazer há tempos e sabe mais do que você. Um produto acabado de boa qualidade fala por si só. É como se fosse um bom livro de prática. Digo isso, de maneira geral, para tudo que se aprende, porém quando se trata de aprender a fazer produtos perfumados, cosméticos, sabonetes e perfumes, a prática conta muito. Ler, sem dúvida, mas praticar, seguir diferentes regras, tentar diferentes maneiras de fazer a mesma coisa, muitas vezes implica em gasto de material com produtos que a gente estraga e tem que modificar para poder aproveitar. Faça tudo em micro escala, antes de tentar fazer partidas grandes. No caso de sabonete isso não funciona direito, porque fazer sabonete em micro escala é bem diferente de fazer partidas grandes. Mas vale assim mesmo o toque de fazer pouco, primeiro, testar e depois fazer muito. Escreva tudo que se lembrar de escrever. Etiquete tudo. Cuidados especiais para fazer sabonete: sempre colocar a soda na água e não ao contrário (já fizeram este teste antes de você e viram que não dá certo - não queira tentar você também). Não respire os vapores desta mistura, pois são muito cáusticos e podem afetar seus pulmões e mucosa nasal. É natural aumentar a temperatura desta solução. Trata-se de uma reação exotérmica, isto é, desprende calor. Use mangas compridas, use óculos de proteção, use luvas de borracha. Sim, vai haver dias em que você vai fazer sabão sem isso tudo, porém não facilite. Todo cuidado é pouco, quando se mexe com produtos cáusticos. Fora com as crianças e bichinhos de estimação, nesta hora acme. Até maridos e telefones podem atrapalhar muito quando você está tensa, atenta, fazendo sabão. Prepare primeiro sua forma, seus aromas e depois proceda com o resto ou utilize o tempo que você espera para seus óleos e soda esfriarem para preparar tudo que vai precisar, pois assim que o sabão atinge o 'trace', você deve agir depresssa e ter tudo à mão. Se alguém tiver mais toques a dar, por favor, coloque aqui. Agora chega. Depois a gente conversa mais. Bom domingo a todos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Amigos e amigas

Desde que comecei a trabalhar com cosméticos tenho uma profunda gratidão a uma série de pessoas que me ajudaram a crescer no que faço. Começarei pelos alunos que me forçaram a elaborar a primeira fórmula, que serviram de cobaias para ela e outras que vieram depois. Vocês não sabem como é bom ter um produto testado, com controle de qualidade. Os meus colegas professores também, foram encorajadores e serviram de teste para meu primeiros sabonetes e "gosméticos", arrumaram receitas interessantes, falaram sobre os sabões de avós e tias e mães e deram inúmeros toques. Alessandro L. Freire foi o grande incentivador na parte de aromaterapia. Sempre me ajudou e ainda ajuda a melhorar meu desempenho, é fantástico e sempre pronto a ajudar. Um grande amigo e companheiro. O grupo de compras de artesanato onde Shea (Ângela) e Cacau (Claudia)organizavam nossas primeiras listas de compras em conjunto e até hoje fazem isso. O grupo Ladrão de Aromas do Google onde todas participavam com o maior carinho e onde conheci as companheiras de hoje e que espero estar junto delas até o fim. As buscas de livros e informações de Marian, Mara, Valéria, Beth, Malu, Annie. As dicas da Ju, da Lúcia, da Adriana (autora da foto do sabonete preto no blog anterior), Bia, Leila. Os sonhos de trabalho com Krika, Gurudass, Sandra. A solicitude do Flávio, enfim, não posso esquecer este pessoal. Gente que começou junto, aprendeu junto, construiu junto. Algumas pessoas conheço pessoalmente, outras eu nunca vi, como a Silmara, Mônica, Deise e muitas mais. Só quero lembrar estas pessoas que estão em uma caixinha de prata dentro de mim. Algumas foram e o nome foi embora junto (tenho memória péssima para nomes e números). Pessoas caras que vão e vem, que mudam muito ou permanecem as mesmas, que passam pela vida da gente e deixam seu "swirl", sua tinta, seu perfume. Por mais que nos afastemos, por mais que as diferenças se imponham, fica aqui o registro de gente que foi importante na minha formação. Agora estão chegando pessoas novas, cheias de energia e começam a despontar novos saboneteiros, novos perfumistas, novos cosmeticistas. Vem na nossa esteira toda uma galera nova e que sejam bem-vindos, trazendo agitação, perguntas, questionamentos. Tudo vale. Tudo valeu. É a movimentação da vida permeando tudo e o Tempo, que anda sempre para frente, transformando tudo. Vamos nessa. Um bom dia para todo mundo do planeta.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sabonetes -- um capítulo à parte.

Meu pai teve uma fábrica de sabão. Eu era muito pequena, nem peguei gosto pela coisa, logo ele se desfez e era sabão de uso doméstico, que, por sinal, minha mãe detestava. Só usava sabão de coco, porque era pobre de Paris (rsrs). Mas era muito pequena, era perigoso para crianças circularem lá dentro, então nem vi direito. Em 2003/04, quando re-comecei a trabalhar com perfumes e cosméticos caseiros artesanais, logo veio a idéia de fazer sabonete. E ia a Varginha comprar glicerina e formas e essências para fazer, porém nunca me agradei de ter que ir comprar as bases. Queria FAZER o sabonete, desde o "toma-se uma gamela". Externei esta vontade à minha então colega Luciana, professora de Química e me disse que ela, particularmente, não sabia como fazer, mas tinha visto um programa de tv em que apareceu uma moça mostrando uma receita. Ela anotou para fazer um dia, mas nunca se interessou. Veio com uma receita de Ariê (fantástica saboneteira), de um sabonete de calêndula. Adaptei a receita com o que eu consegui em Cambuquira, lembrei dos primeiros mandamentos da diluição de bases fortes, que sempre reagem fortemente com a água. Lá fui eu. Fiz a minha receita, do sabonete da Ariê. Deu certo!!! Depois fui mais longe. Falei com as amigas da zona rural que faziam sabão de cinzas e aprendi a teoria, numa cartilha do Mobral!!! Que sabão mais complicado o de cinzas! Até hoje não tem uma receita escrita, pois cada vez sai de um jeito. Principalmente quando usamos óleos vegetais, pois o sabão da roça é de banha de porco e sebo de vaca e um sabonete ficaria muito fedido se fosse feito desta maneira. Faço sempre uns 4 ou 5 tipos de sabonete, pois já tem uma certa clientela que dá preferência. São eles: Black Beauty (desintoxicante, de carvão ativado), Kalamilk (sedativo da pele superaquecida, antiacne, com calamina), Flores do Sol (super hidratante, cicatrizante e antiaging, com girassol e calêndula), Sapun Ghar (fórmula milenar de sabão de Aleppo, Síria, feito com oliva e louro, regenera a pele e ótimo contra problemas escamativos, como caspas, psoríase, eczema). Leite & Karité (super hidratante e emoliente, bom para pele cansada, com leite e manteiga de karité, que não para um segundo na vitrininha). O Cinderella é o de cinzas, cera propolizada (de onde foi retirada a própolis), manteiga de karité e cacau, óleo de girassol, antiacne, tira marcas de espinhas e de sol, clareando a pele. Estes são os que sempre tenho que repor estoque, pois todos gostam muito. Até eu...

Alguns produtos

Alguns produtos que eu faço serão comentados aqui, por simples falta de jeito de colocá-los em minha página. Gostaria de saber mexer nela sozinha, mas meu conhecimento de computação não é suficiente. Tenho muito que aprender, em todos os sentidos... Então vou me conformando em falar mais no blog. Antes de tudo, faço perfumes desde os 20 anos de idade, o que significa, na linha do tempo, 37 longos anos. Dizer que "sei" fazer perfumes, é algo que não digo, pois uma das coisas que move nossa vida é nunca estarmos acabados em nosso conhecimento. Na verdade, agora é que estou aprendendo! Aprendendo com Justine Crane, em primeiro lugar, que é a minha professora de perfumaria antiga, que trabalha com arômatas naturais. Com minhas colegas de curso, sem dúvida, Yuko Fukami, Lisa Abdul-Quds, Holly Simpson, pois trocamos muitas informações. Também com Ruth Ruane, a diretora da Academia de Artes Perfumísticas NNAPA, que nos proporciona muitas oportunidades e tem um belo bazar de arômatas de que podemos dispor. Também com Shelley Waddington, que ensina a composição usando isolados naturais. Todos e o esforço em conseguir ingredientes interessantes, desconhecidos, raros, complicados de trabalhar, empenho nos estudos, em livros antigos e modernos, muitas vezes caros, difícies de ler e sempre em língua estrangeira, que encontramos em sebos e em forma de e-livros na internet. Faço perfumes e entre eles estão alguns de que gosto muito, como Iz, Juvena, Nuit Oriental, Al Amir... São perfumes naturais, com fixação natural, com aromas diferentes dos comerciais, que deixam um rastro suave e não intoxicam quem você abraçar nem fazem escândalo quando você chega. Chamam a atenção pelo aroma diferente de tudo que você está acostumado a cheirar. Esta característica é importante como distintivo de minha marca olfativa. O perfume natural se concentra onde você o coloca, demora algumas horas perfumando, sem enjoar, pois aos poucos o aroma se transforma e esta mobilidade, faz com que as notas do perfume sejam percebidas em sua totalidade. Ele fica onde você está e quanto mais perto de você uma pessoa chega, mais perceptível se torna, dando um caráter mais intimista. O perfume natural é rico e repleto de nuanças. Você precisa experimentar. Mas como a foto inicial indica, também faço sabonetes. E este é o próximo assunto.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Memórias de perfume...

Dentro de nosso cérebro, está o sistema límbico, responsável por nossa memória remota, as percepções do ambiente, relacionadas ao ato de comer, o faro, o paladar. É ele que faz com que um perfume nos remeta a outros tempos, que associemos os aromas aos momentos.

É ele que determina que lembremos de um determinado prato, que associa um cheiro a podre ou a uma flor e quem já cheirou uma rosa, já espera o aroma, quando cheira outra.

É através dos nossos sentidos que percebemos o ambiente a nosso redor. Estes sentidos são analisados pelas células do sistema nervoso, que darão uma resposta aos estímulos que recebemos do ambiente.

É como dizer, quero, não quero, gosto, não gosto.

A nossa visão vai ajudar a nos situar. Mas se você fecha os olhos, os outros sentidos se aguçam.

Por isso fechamos os olhos quando sentimos um perfume ou ouvimos uma música que gostamos muito. E isso nos remete a outros tempos vividos ou imaginados.

É isso que sinto agora, quando o ar me traz o aroma do saquinho de amostras de oud, aqui na gaveta ao meu lado. Pequenas gotas aprisionadas em mínimos flaconetes, que me pasmam por sua ancestralidade.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ladrão de Aromas

Este nome está relacionado ao fato de todo perfumista roubar aromas de um vegetal e colocar em forma de essência em suas composições.
As lojas mais famosas de perfume, as que têm seu nome marcado por usarem muitos matérias primas naturais, usam ainda fazer tinturas de um determinado arômata, para usar nos perfumes.
As tinturas são macerações do vegetal em álcool.
O Tempo é o grande agente das tinturas e infusões em óleo ou glicerina.
Também o perfume do L'Artisain Parfumeur, Voleur de Roses, inspirou este nome.
Nome que foi de um grupo de discussões variadas no Google, mas está desativado, nome de uma comunidade no Orkut, e agora um blog.
Sempre comigo estão aqueles que roubam aromas, usando como solvente sua alma e seu calor.
Comigo estão aqueles que escutam a vibração das fragrâncias e se guiam pelo faro e seu som para absorver as moléculas de olor.
Estamos sempre em busca de novos aromas, novas formas, novas combinações.
Com esta profundidade de sentimentos, mas com os sentidos à flor.

Perfumaria Antiga.

Usando este magnífico flacon do perfume L'Abeille Noire, de Guerlain, quero iniciar a conversa sobre perfumes.

Falar sobre aromas é algo difícil. No nosso vocabulário, as palavras raramente expressam o aroma das coisas, a não ser de uma maneira radical ou comparativa.

Cheiro de mato queimado, de carniça, de lixo, de fermento, de suor, de meia suja, odor de chiclete, aroma de rosa, de jasmim, ou algo assim. Nunca sabemos direito como nos expressar para qualificar um aroma.

Avaliar o aroma fica sendo uma tarefa muito subjetiva e cansativa, pois identificar um aroma através das palavras é complicado demais.

Mas temos que seguir tentando e tento descrever o aroma da tuberosa, poudré, doce, envolvente, intoxicante, liliáceo, induz ao sono, parece fruta, pastoso, mel.

Tem aroma secundário de pêssego, mamão, nectarina, manga ou alguma fruta cheirosa, amarela, polpuda e suculenta.

No fundo, bem no fundo, tem uma nota animal, meio podre, nauseante, cansativa. Que lembra flores velhas em uma vaso que ninguém se lembrou de trocar a água.

Como tecer uma canção de tuberosa? Combina tão bem com o jasmim e a rosa, mas contrário aos prognósticos, palmarosa e lemongrass.

Que base ficaria bem? Benjoim, styrax, opoponax, olíbano, talvez.

Na nota de sorriso, hespérides. Colheria tangerinas bem maduras. Petitgrain de limão capeta.

Este perfume não existe. Mas quem entendeu o meu pensamento, sabe do que estou falando.

Este jogo sensível de compor no papel, de escrever somente e imaginar, é o melhor de todos os perfumes.

É como o vôo ensolarado das abelhas negras de Guerlain, que eu imagino, imagino, mas não sei o que é.

domingo, 24 de outubro de 2010

Perfumaria

Desde meus 20 anos eu sou interessada em compor perfumes. Esta paixão se incorporou tanto em minha vida, que acabei por fazer um curso de perfumaria botânica natural, Antiquarian Perfumery, promovido pela Nature's Nexus Accademy of Perfuming Arts, sob a direção da empresária perfumista Ruth Ruane (Galway, Irlanda) e ministrado pela perfumista natural, Justine Crane.
Neste curso, onde fui aprendiz, agora sou tutora dos novos alunos e tenho muita alegria por ter conseguido fazer, aprender e participar do primeiro grupo de artesãos perfumistas dedicados.
Compus algumas fragrâncias gostosas, algumas ainda em construção, muitas na cabeça, em forma de idéias que evolam como volutas perfumadas.
Todos fazendo sentido, agora.
Juvena, o primeiro, continua sendo bom, mas há alguns bem mais elaborados, como:
Iz, Riding in Green, Nuit d'Orient, Al Amir, Al Amira (muito semelhantes - um masculino e outro feminino), Classmates, Ringtones, Embrujo de la Gitana e outros, muitos outros ainda pela metade.
Estou estudando muito, até o vocabulário da gente muda. Aprender novos ingredientes, novas técnicas, metodologias antigas arranjadas em livros antigos.
Vasculhar os sebos, ler em vários idiomas, pensar o tempo todo em um aroma, estudar bastante, passaram a ser parte do meu cotidiano de artesã perfumista.
Isto não é tudo, mas um pouco da minha vida.

domingo, 17 de outubro de 2010

Enfim, resolvi começar.

Não sei mexer no blogger, apesar de estar por aqui há muito tempo. Não me interessei em começar a blog-ar, não por não ter assunto, mas por me sentir insegura, mas deixando tudo de lado, o melhor é começar. Primeiro vou falar do trabalho que venho desenvolvendo desde 2004, quando lecionava para diversas salas de oitava série (nono ano) e 120 dos 128 alunos tinham acne, variando de fraca a severa, passando por todos os níveis. Ao saberem que eu mesma fazia meus própriios cosméticos, pediram que eu bolasse alguma coisa que diminuísse a tortura da acne. Juntei todo o material que eu tinha, com o dísponível na farmácia e no mercadinho natural. Algumas consultas na internet, a prática de laboratório e um certo bom senso, me conduziram a uma loção que faço até hoje e passa temporadas de apogeu e queda, que é a Loção Mirracne. Além das espinhas, Mirracne também se revelou uma beleza para alguns casos de rosácea - inclusive o meu. Descobri isso sendo cobaia de meu próprio produto. E a partir daí veio o pedido de um sabonete, "que tal?" Fiz um de glicerina com os ingredientes da loção e a coisa foi crescendo e hoje é minha razão de ser. Faço cosméticos especiais para pessoas com problemas de pele, ou para aquelas que simplesmente gostam de produtos feitos a mão com ingredientes naturais. Ingredientes de qualidade, ervas e flores do jardim, colhidas no momento certo, material importado de finíssima qualidade, óleos essenciais de aromaterapia qualificada, arômatas de primeira, utilizados por perfumistas célebres, enfim, tudo que há de bom, para cuidar do mais exposto e maior órgão do nosso corpo: a pele.